terça-feira, 24 de agosto de 2010

ECOLOGIA INDUSTRIAL

Quando e onde começou a se falar em Ecologia Industrial?

A Ecologia Industrial está baseada no estudo de sistemas e na termodinâmica. As metodologias para o estudo de sistemas foram estudadas por Jay Forrester nos anos 60 e 70 [5,6]. Donella e Dennis Meadows [7] utilizaram a análise de sistemas para simular a degradação ambiental do planeta e enfatizaram o caminho insustentável do sistema industrial vigente.

Desde então, a associação indústria-ecologia tem se manifestado de forma dispersa ao longo das últimas três décadas. O conceito de Ecologia Industrial, embora não explicitamente, é encontrado na literatura desde os anos setenta. Alguns ecologistas há tempo tinham a percepção do sistema industrial como um sub-sistema da biosfera que, demandando recursos e serviços da mesma, teriam que ser analisados conjuntamente. Uma das primeiras ocorrências do termo “ecossistema industrial” pode ser encontrada em um artigo de 1977 do geoquímico americano Preston Cloud [8], apresentado no Encontro Anual da Associação Geológica Alemã. O artigo foi dedicado a Nicholas Georgescu-Roegen, um defensor do estudo da economia com base na termodinâmica e o pioneiro da bio-economia [9-11]. Diversos artigos tratando do que foi chamado “tecnologia e produção sem resíduos” foram, também apresentados no seminário promovido pela Comissão Econômica para a Europa, da ONU, em 1976. Até este momento, as tentativas para discutir o novo conceito, tiveram repercussão limitada. Porém, no Japão, a idéia de considerar a atividade econômica num contexto ecológico foi desenvolvida em parceria pelo Estado e a indústria privada a partir do final da década de 60, o que fez do país pioneiro nesta área [4]. Várias ações foram tomadas visando levar o Japão a se tornar competitivo, explorando as possibilidades de orientar o desenvolvimento da economia japonesa em atividades que deveriam ser menos dependentes do consumo de materiais e baseadas em informação e conhecimento. A seguir fazemos uma cronologia das ações japonesas:

· Em 1970 no Conselho de estrutura industrial surgiu a idéia de considerar a atividade econômica num contexto ecológico.

· Em maio 1971 foi publicado o relatório final do conselho de estrutura industrial chamado “Uma visão para os anos 1970”.

Cumprindo determinações do relatório o Ministério do Comércio e Indústria Internacional (MITI), formou cerca de quinze grupos de trabalhos dos quais deve ser destacado o “Grupo de trabalho Indústria Ecologia” que tinha por finalidade promover e desenvolver uma reinterpretação do sistema industrial nos termos de ecologia científica. Este grupo era coordenado por Chihiro Watanabe.

· Em maio de 1972, após um ano de trabalho o grupo de Chihiro Watanabe apresenta seu primeiro relatório que foi amplamente distribuído no MITI e em organizações industriais.

· Em março/abril de 1973 Chihiro Watanabe encontra-se com Eugene Odum um dos papas da Ecologia Industrial.

· Na primavera de 1973 o grupo de Chihiro Watanabe apresenta um segundo relatório, com propostas mais concretas que as apresentadas no relatório anterior.

Os trabalhos do grupo de Chihiro Watanabe serviram de base para a criação de novas políticas.

· Em abril de 1973 o MITI, recomenda o desenvolvimento de uma nova política com base nos princípios da ecologia, dando ênfase aos aspectos da energia.

· Em agosto de 1973 o MITI faz a primeira requisição de orçamento para o projeto “Luz do Sol”. O objetivo principal do projeto era tratar das fontes de energia (energia renovável).

· Em julho de 1974 começa efetivamente o projeto “Luz do Sol”

· Em 1978 o MITI lança o projeto “Luz da Lua”, cujo objetivo era o aumento na eficiência do uso de energia.

· Em 1980 o MITI funda a organização de desenvolvimento da nova energia (NEDO).

· Em 1988 lança o programa global de tecnologia ambiental.

· Em 1993 é lançado o novo programa “Lua do Sol”. Sendo este programa uma parte de um projeto mais amplo, o projeto “Nova Terra 21”

O princípio básico da estratégia japonesa é “trocar recursos materiais com tecnologia” [4]. Poderíamos resumir o tratamento japonês sobre ecologia industrial da seguinte forma: O Japão pôs em prática o que no Ocidente ainda é principalmente teoria.

No Ocidente, diversos trabalhos surgiram na década de 80 em diferentes países, dentre estes se pode citar o trabalho coletivo chamado “Ecossistema Belga” desenvolvido por biólogos, químicos e economistas e que trata de idéias hoje defendidas pela Ecologia Industrial como considerar resíduos como matéria prima para outros processos, enfatizar a importância da circulação de materiais no sistema e acompanhar os fluxos de energia do sistema [12].

O grupo utilizou dados estatísticos da produção industrial para obter uma visão geral da economia do país, com a utilização de fluxos de energia e material em vez do uso de unidades monetárias usadas pela economia tradicional. Para isto, foram selecionados seis fluxos de material: ferro, vidro, plástico, chumbo, madeira/papel e produtos alimentícios. Entre os principais resultados os pesquisadores identificaram a desconexão entre dois estágios de um fluxo. O fluxo do aço estava voltado principalmente à exportação, sem qualquer relação com o setor de metais para construção. Como resultado da falta de interação entre o setor do aço e o setor de construção-metais, a indústria de aço belga tornou-se muito dependente da exportação e, consequentemente, tornou-se vulnerável à competição do mercado mundial e não atendia às necessidades do mercado doméstico. Uma das idéias mais interessantes desenvolvidas pelo grupo belga foi a de estabelecer a relação entre o fluxo de matéria prima e a quantidade de resíduos gerado. Ao contrário do normalmente é considerado, que a produção de resíduo é atribuída ao aumento de produção e consumo, o grupo chegou à seguinte conclusão: “nosso consumo de matérias primas e a nossa produção de resíduos é uma conseqüência da estrutura de circulação de matérias primas em nosso sistema industrial. Para reciclar resíduos, devemos perceber que as principais dificuldades não estão relacionadas à coleta, ou mesmo ao estágio de separação, mas antes da coleta, isto é, na possibilidade de dispor dos resíduos na estrutura de nosso sistema de produção” [12]. Apesar de sua importância o trabalho do grupo belga foi esquecido em pouco tempo.

A idéia de descrever os fluxos de material e energia, inerentes aos processos industriais, como um sistema metabólico, foi introduzida por Robert U. Ayres, com o termo “Metabolismo Industrial” [13]. O conceito se fundamenta, basicamente, na aplicação balanços de massa à circulação de materiais e balanços de energia ao longo dos processos produtivos.

Apesar de todas as tentativas anteriores, o conceito de Ecologia Industrial tornou-se mundialmente conhecido a partir da publicação do artigo de Robert Frosch e Nicholas Gallopoulos, na conceituada revista Scientific American. O título proposto pelos autores foi “Manufatura – A Visão do Ecossistema Industrial”, mas o artigo foi publicado com o título “Estratégias de Manufatura” [14]. Nele, os autores argumentam ser possível desenvolver métodos de produção menos danosos ao meio ambiente, substituindo-se os processos isolados por sistemas integrados que chamaram de ecossistemas industriais. Esses modificariam, tanto quanto possível, a lógica de produção isolada, baseada apenas na utilização de matérias primas resultando em produtos e resíduos, substituindo-a por sistemas que possibilitassem o aproveitamento interno de resíduos e sub-produtos, reduzindo as entradas e saídas externas.

Apesar das idéias apresentadas por Frosh e Gallopoulos não serem totalmente originais, este artigo é considerado o primeiro passo no desenvolvimento da Ecologia Industrial. E, partir dos anos 90, o conceito de Ecologia Industrial passou a receber considerável atenção tanto do setor acadêmico quanto do econômico e social.

Em 1991, a National Academy of Science considerou o desenvolvimento da Ecologia Industrial como um novo campo de estudo. Em 1994, foi publicado o primeiro livro sobre o tema The Greening of Industrial Ecosystems [15], que identifica as ferramentas da Ecologia Industrial, como o Projeto para o Ambiente, a Avaliação de Ciclo de Vida e a contabilidade ambiental.

A tabela 1 mostra as principais contribuições para a Ecologia Industrial nos últimos 25 anos.

Comentários

A história do desenvolvimento da Ecologia Industrial contou com a participação de um grande número de pensadores, alguns originários do meio acadêmico e outros da indústria. Este artigo, não contempla todos os eventos e personagens envolvidos na evolução deste novo conceito. Entretanto, a descrição de algumas das principais contribuições realizada neste artigo oferece um quadro geral do desenvolvimento do conceito e um guia introdutório para um estudo mais aprofundado da Ecologia Industrial.

A ecologia Industrial se encontra, hoje, em uma etapa de construção, mas já se percebe seu grande potencial em face aos problemas ambientais. Engenheiros e administradores podem encontrar neste conceito um vasto campo para ação e para estudo em uma área em que novas solução são necessárias, se não, obrigatórias.

A Ecologia Industrial oferece um caminho para as empresas para a exploração de seus recursos (incluindo seus resíduos) de uma forma que resgata a interdependência do homem e da biosfera.

“O objetivo da Ecologia Industrial é formar uma rede de processos industriais mais elegante e com menos desperdício.” [16]. Uma sociedade industrial mais elegante, uma economia mais inteligente é uma mudança que engenheiros deverão se engajar em conjunto com os políticos, economistas e cidadãos.

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